Era seu dia, assim disseram.
Estranhou:
os outros dias não eram seus?
Se achegou.
Espreitou.
A oferenda,
era coisa tão nenhuma
que nem parecia existir.
-O que é isso?, perguntou.
-É uma prenda, responderam.
Que prenda poderia ser
se tinha forma de nada?
-Abre.
Abrir como, se não tinha fora nem dentro?
-Prova.
Como provar o que não tem onde se pegar?
Olhou melhor.
Fixou não a prenda,
mas os olhos de quem dava.
Foi, então o que era nada
lhe pareceu tudo.
Grato, retribuiu com palavra e beijo.
O que lhe ofereciam
era a divina graça do inventar.
Um talento para não ter nada.
Mas um dom para ser tudo.
(Mia Couto, em vagas e lumes, 2014)
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